Desigualdade salarial entre homens e mulheres cai em 10 anos
O rendimento médio da população ocupada teve aumento real de 50% entre 2004 e 2014. Mas para as mulheres, a alta foi maior, de 61%. O desempenho foi ainda melhor entre as mulheres negras, que contaram com 77% de aumento real de renda nesse período de dez anos. Os dados fazem parte de um diagnóstico da situação da mulher trabalhadora brasileira, preparado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As informações servem como base para ações do programa Mulher Trabalhadora, lançado nesta sexta-feira (11) pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS).
O programa tem como objetivo ampliar a participação e a permanência das mulheres no mercado de trabalho, garantindo igualdade de rendimentos e de oportunidades de ascensão. Para isso, o Mulher Trabalhadora irá promover políticas de proteção da mulher, estimular políticas que incentivem o compartilhamento das responsabilidades familiares e desenvolver planos de ações.
Apesar de ainda existirem diferenças salariais entre homens e mulheres, em 2014, a mão de obra feminina ultrapassou, pela primeira vez, o patamar de 70% da renda masculina. Dez anos antes, essa proporção era de 63%.
Segundo os dados do Ipea, homens ainda ganham mais do que as mulheres: em 2014, homens tinham o salário médio de R$ 1.831, enquanto as mulheres ganhavam R$1.288. As mulheres negras têm a menor remuneração, com valor médio salarial de R$ 946, e os homens brancos com maior rendimento, de R$ 2.393 no mesmo ano.
O estudo mostra que o número de mulheres inativas, sem salário mínimo e carteira assinada, é maior do que o número de homens. De cada dez mulheres, quatro não conseguem colocação no mercado de trabalho.
Em 2014, eram 26,7 milhões de mulheres inativas contra 9,1 milhões de homens inativos. Os dados ainda revelam que dois terços das mulheres inativas têm filhos, comparado a menos da metade dos homens na mesma condição. A responsabilidade familiar se impõe como uma dificuldade adicional para se inserir no mercado.
Trabalho doméstico ainda é feito pela mulher
Na divisão de tarefas domésticas, a mulher ainda faz a maior parte do trabalho. De cada dez mulheres, nove declararam fazer algum tipo de serviço doméstico não remunerado. Nos homens, esse número cai para cinco em cada dez. Ao longo da década estudada, houve discreto aumento do envolvimento masculino nas tarefas domésticas, que passa de 46%, em 2004, para 51%, em 2014.
A jornada do trabalho doméstico também pesa muito mais na rotina das mulheres. Em 2014, enquanto os homens ativos despediam 10,9 horas semanais para ajudar nas responsabilidades de casa, as mulheres também ativas gastavam mais do que o dobro: 25,3 horas. Mesmo os homens sem vínculos trabalhistas gastam apenas 13,7 horas nos afazeres de casa. A pesquisa também mostrou que esse quadro se repete desde as mulheres de alta até as de baixa renda.
Ao considerar o acúmulo de trabalho no mercado e da responsabilidade pelos afazeres domésticos não remunerados, a pesquisa mostra que a mulher tem uma jornada dupla maior do que a do homem. Em 2014, enquanto os homens faziam uma jornada dupla de 51,6 horas, as mulheres dedicam 56,7 horas da semana para os mesmos trabalhos.
Segundo o programa Mulher Trabalhadora, os dados da pesquisa são fundamentais para desenvolver políticas públicas capazes de promover a igualdade no mundo do trabalho e a autonomia econômica das mulheres urbanas e do campo, levando em conta as desigualdades de raça e classe, para a eliminação da divisão sexual do trabalho e na valorização da participação das mulheres no desenvolvimento do Brasil.