Presidente do Tupi-MG relata preconceito por ser mulher: "perdi patrocínio
Assim como em outros setores da sociedade, o futebol ainda está longe de estar preparado para ter mulheres no comando. É o que mostra o caso de Myrian Fortuna, presidente do Tupi-MG. Comemorando o acesso à Série B conquistado este ano, a presidente da equipe mineira não esquece as dificuldades que viveu no passado e admite sofrer muito preconceito por ser uma mulher no comando de um clube brasileiro.
Em entrevista ao UOL Esporte, Myrian revelou que já perdeu patrocinadores desde quando assumiu o controle há dois anos. Ela revela ainda ser olhada de maneira diferente por próprios companheiros de conselho de clube.
Para chegar à presidência, Myrian, que é casada e tem três filhos, começou a trabalhar no clube como nutricionista e teve experiências em áreas administrativas do Tupi-MG. Atualmente, ela está em São Paulo para buscar novos parceiros para o novo planejamento do clube na busca por uma vaga na elite do futebol em 2017.
UOL Esporte: Conte como você chegou à presidência do Tupi-MG.
Myrian Fortuna: Eu sou nutricionista e advogada. Fui parar no Tupi depois de uma longa história que meu avô e meu irmão foram presidentes. Fui sempre torcedora e quando fui contratada para ser nutricionista, o Tupi estava na segunda divisão do mineiro, em 2006. De lá para cá, fui sempre trabalhando e há dois anos que eu fui eleita como presidente. Cheguei pelo trabalho e pela paixão. E despertei nos conselheiros a confiança por causa do meu trabalho e dedicação. Já fui vice-presidente social e coordenadora da base também.
UOL Esporte: Como você decidiu se lançar na eleição?
Myrian: Os conselheiros, os antigos presidentes e vices começaram a me chamar de presidente quando o mandato anterior foi terminando. E eu brincava com eles que eles estavam malucos. Mas aí eles me indicaram e acabou dando certo. Eu aceitei.
UOL Esporte: E você sofre preconceito por ser mulher no cargo que ocupa?
Myrian: Eu sofri bastante preconceito. Todo mundo achava que eu não entendia de futebol, mas a maioria via como um desafio. Eu organizava uma área de administração do CT, eu tinha um domínio do CT e da sede social. Então muitos viam minha competência na área. Viram que o clube melhorou um pouco na gestão. Mas assim que eu assumi, foi muito difícil. Perdemos alguns patrocinadores porque não acreditavam em mulher. Hoje eu ganhei credibilidade e as coisas estão melhores.
UOL Esporte: Os patrocinadores saíram apenas porque você era mulher?
Myrian: Sim! Eles me falaram. Perdi patrocinadores por causa disso. Não vem ao caso falar deles agora, mas eu também sofri críticas de torcedores e sócios. Alguns ainda ficavam falando que eu estava ali só por que eu era filha e irmã de ex-presidente.
UOL Esporte: E com os jogadores? Como é sua relação? Quando precisa ir no vestiário dar aquela bronca, enfrenta alguma resistência?
Myrian: Para te falar a verdade, nunca fui ao vestiário. Tenho uma relação com os jogadores desde que sou nutricionista. Sempre viajei com o time, sempre acompanhei os meninos na parte nutricional, na orientação. Sempre acompanhei na pré-temporada. E foi sempre uma relação muito boa. E quando eu virei presidente eu dei uma palestra de abertura, de boas vindas só. Mas até hoje eu sigo como nutricionista e tenho relação com eles. Na hora de dar bronca, é normal. Vou lá e dou a bronca.
UOL Esporte: Com relação a dirigentes de clubes, de federações, tudo é tranquilo?
Myrian: Nas federações eu sempre fui muito bem tratada, fui até homenageada, eles sempre me tratam muito bem. Na CBF também. Não tive esse problema.
UOL Esporte: Você já conversou com alguma outra mulher que tenha um cargo tão alto no futebol?
Myrian: Quando eu assumi, a Patrícia já não era mais do Flamengo. E quando disputamos a Copa do Brasil, eu estava em Alecrim, na primeira rodada. Lá me falaram que tinha uma diretora, mas era no nível amador. .