Desejo interdito: disfunção sexual também pode afetar a mulher
Quem ouve falar em impotência sexual costuma pensar logo em disfunção erétil, problema que assombra a população masculina. Mas as mulheres também estão sujeitas a vivenciar dificuldades na hora da relação sexual. Estima-se que de 40% a 50% da população feminina experimente alguma disfunção sexual ao longo da vida, desde o início do período reprodutivo e da atividade sexual até a velhice.
Naturalmente, os problemas das mulheres são diferentes daqueles dos homens. Entre elas, costumam se distinguir três tipos de disfunções sexuais: a dificuldade de estabelecer ou manter interesse/excitação para o ato sexual, a dificuldade de chegar ao orgasmo, e a dor ou dificuldade para a penetração – condições antes denominadas como dispareunia e vaginismo.
Embora relacionadas a diferentes etapas da resposta sexual, as disfunções podem levar uma à outra com o tempo, tornando difícil identificar o problema original. É o que aponta Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora geral do ProSex – Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. “A mulher às vezes diz, ‘Não tenho orgasmo’. Mas essa falta de orgasmo pode decorrer da falta de desejo, ou de uma dor na relação sexual que dificulta chegar lá”, comenta ela.
Causas
Tal como se dá com os homens, dificuldades ocasionais no sexo ocorrem também com mulheres, em momentos de estresse ou até de instabilidade no relacionamento. Todavia, quando o problema vira rotina e se estende por meses, causando angústia à mulher, pode ser considerado uma condição patológica.
E quais as causas? Segundo Carmita, problemas como depressão ou alterações hormonais, que podem afetar diretamente a libido, estão entre os primeiros suspeitos a serem investigados. E até doenças sem relação evidente com a sexualidade também podem estar na raiz do problema.
“Uma diabetes crônica, não tratada, pode lesar pequenos vasos sanguíneos e nervos, o que vai impedir a mulher de ter lubrificação adequada. Com isso, ela vai sentir grande desconforto no sexo e passar a ter problemas sexuais”, exemplifica.
Probelma Tácito
Vale notar que, ao contrário de homens com impotência, mulheres com disfunção sexual não ficam incapacitadas para o sexo. “A disfunção feminina não impede de fazer sexo, e a mulher vai fazer, ainda que disfuncionalmente. Já o homem tem de procurar ajuda, ou não vai conseguir”, explica Carmita.
A diferença justifica por que os homens são vistos em maior número nos consultórios. A especialista cita dados do ProSex como exemplo: “Para cada sete homens em tratamento para disfunção sexual, há uma mulher”.
Para aquelas que buscam ajuda e recebem o diagnóstico de disfunção sexual, o tratamento pode abranger várias técnicas e terapias, segundo as causas identificadas pelo profissional. “Na mulher vagínica, trabalhamos a ansiedade com ansiolíticos, fazemos acompanhamento fisioterápico, exercícios para dilatação e eletroestimulação, e psicoterapia. No caso de falta de libido, se for depressão, fazemos psicoterapia. Enfim, é tratar a causa de forma medicamentosa, com psicoterapia ou ambas”, resume Carmita.
A especialista alerta, por outro lado, para a prescrição e o uso indiscriminado da testosterona como estimulante sexual feminino. “No Brasil, ela não pode ser administrada a mulheres que ainda produzem o hormônio. É apenas para mulheres que tiveram os ovários retirados, ou passaram por quimioterapia, e não produzem mais”, sentencia.
Na dúvida, a dica é sempre procurar um profissional ginecologista ou psiquiatra. O sexo da mulher, afinal, não é tão simples como um interruptor. “Dizem que o sexo, para o homem, é como um botão que você aperta. Já para a mulher seria como um painel de avião”, brinca Carmita. “Fico pensando que às vezes é preciso um copiloto! Mas cuidado, isso dá morte!”, diverte-se.
Remédios afetam
Medicamentos que inibem a libido também podem levar à disfunção sexual. “Anti- depressivos, anti-hiperten- sivos, anorexí- genos, alguns anovulatórios – uma mulher às vezes toma tudo isso ao mesmo tem- po”, comenta Carmita Abdo, sugerindo a busca de opções alternativas ou de efeito reduzido na prescrição para estes casos.