Nobel de Literatura premia obra polifônica da bielorrussa Svetlana Alexievich
A bielorrussa Svetlana Alexievich é a vencedora do prêmio Nobel de Literatura em 2015, por sua "obra polifônica, memorial do sofrimento e da coragem em nossa época", anunciou a Academia Sueca.
A jornalista e escritora, de 67 anos, é a 14ª mulher premiada com o Nobel de Literatura desde sua criação, em 1901.
"Acabo de informá-la", afirmou Sara Danius, secretária da Academia Sueca, ao canal público SVT. "Ela disse apenas uma palavra: Fantástico!", declarou.
"É uma grande escritora, que encontrou novos caminhos literários", disse Danius.
"É extraordinário receber este prêmio", reconheceu a escritora, que foi contactada por telefone pela emissora sueca SVT.
Alexievich, que era apontada como favorita ao prêmio há alguns anos, é autora de livros impressionantes sobre a catástrofe de Chernobyl ou a guerra do Afeganistão, proibidos em seu país, que não a perdoa pelo retrato que fez do "homo sovieticus", um ser incapaz de ser livre.
Muitos de seus compatriotas a leem, embora o regime autoritário do presidente Alexander Lukashenko impeça suas aparições públicas em Minsk, onde vive durante parte do ano.
"Nos últimos 30 ou 40 anos dedicou seu tempo à cartografia do indivíduo soviético e pós-soviético. Mas não é uma história dos acontecimentos. É uma história das emoções, uma história da alma", explicou Danius à Fundação Nobel.
Romances-documentais
O anúncio do prêmio foi muito aplaudido pelo numeroso público presente na Academia Sueca.
Nascida em 31 de maio de 1948 no oeste da Ucrânia em uma família de professores e formada na faculdade de jornalismo da Universidade de Minsk, Alexievich começou a recolher em um gravador os relatos de mulheres que combateram durante a Segunda Guerra Mundial.
Estes testemunhos foram a base de seu primeiro romance, The War's Unwomanly Face, escrito em russo, assim como o conjunto de sua obra.
Desde então, Alexievich segue utilizando o mesmo método para escrever seus romances com tons documentais e entrevista durante anos as pessoas que viveram experiências comoventes.
"Preciso prender uma pessoa num momento no qual foi abalada", havia explicado a escritora ao semanário russo Ogonyok.
"Por meio de seu extraordinário método, Alexievich aprofunda nossa compreensão de toda uma era", escreveu a Academia Sueca.
Zinky Boys, um livro sobre a guerra do Afeganistão, foi o responsável por torná-la famosa.
Sua obra mais conhecida, Voices from Chernobyl, foi traduzida para vários idiomas e publicada em todo o mundo. No entanto, nenhum livro da autora foi publicado no Brasil até hoje.
Alguns de seus livros foram adaptados para o teatro na França e na Alemanha, onde recebeu o prestigioso prêmio da Paz na Feira Literária Frankfurt em 2013.
Alexievich sucede o romancista francês Patrick Modiano, vencedor do Nobel de Literatura em 2014, e receberá uma recompensa de oito milhões de coroas suecas (860.000 euros, 973.000 dólares).