Mais de meio milhão de brasileiros tem colesterol alto
Segundo o Instituo do Coração (Incor), metade dos 683 mil brasileiros que têm colesterol alto de origem genética (1 a cada 300) terão infarto ou AVC antes dos 50 anos de idade. Menos de 1% deles sabe que está doente.
"É uma doença mascarada. Se você não prestar atenção, ela passa e te pega. Não sabia que existia uma doença genética relacionada ao colesterol", conta Natércia da Silva (35), enfermeira que descobriu por acaso, em 2011, que era portadora de hipercolesterolemia familiar (HF).
Como não apresentava colesterol muito alto, ela só descobriu que tinha HF depois que sua mãe foi diagnosticada com a doença no Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), graças ao Programa de Rastreamento Genético de Hipercolesterolemia Familiar, o Hipercol Brasil. A partir da constatação do problema de sua mãe, outras pessoas da família fizeram o exame genético. Resultado: entre as cinco irmãs, Natércia tinha a doença, que também se manifestou em uma das suas três tias por parte de mãe.
Se não tivesse sido diagnosticada a tempo, Natércia poderia fazer parte do grupo de brasileiros que enfartam ainda jovens e, nessa condição, têm a sua qualidade e tempo de vida abreviados consideravelmente. Para se ter uma ideia da agressividade da doença, cerca de 50% dos homens com HF serão vítimas de infarto antes dos 50 anos e, se isso não acontecer nessa faixa etária, com certeza todos eles terão infartado ao chegarem aos 70 anos. Entre as mulheres, o quadro também é alarmante: 12% delas sofrerão infarto em torno dos 50 anos, e quase a totalidade desse grupo (74%) terão esse mal ao chegarem aos 70 anos.
O diagnóstico adequado da hipercolesterolemia familiar pode mudar a história das famílias que têm a alteração genética para a doença. "Com o tratamento correto, é possível retardar de 10 a 30 anos a mortalidade em pessoas com esse mal, com melhora substancial de sua qualidade de vida, já que elas terão menos eventos cardiovasculares ao longo dos anos", explica o cardiologista do Incor Dr. Raul dos Santos Filho, diretor da Unidade Clínica de Dislipidemias do Instituto do Coração.
Infelizmente, cerca de 614.000 brasileiros – aqueles 90% que sequer imaginam que têm a doença – não se beneficiarão dessa possibilidade que lhes abre um diagnóstico correto para a HF, por ignorarem a sua condição metabólica. É bem provável que uma parte deles passará anos indo de médico em médico sem ter solução para seu colesterol alto.
Nesse meio tempo, o processo de aterosclerose no seu organismo, acelerado desde o nascimento pela doença, irá evoluir mais rapidamente que o comum, aumentando de 10 a 20 vezes o risco de obstruções nas veias e artérias do coração (infarto) e do cérebro (acidente vascular cerebral).
Para alertar médicos e a população sobre a necessidade do diagnóstico e tratamento precoces da doença, o Instituto do Coração realiza nesta quinta-feira (24), das 10h às 14h, campanha aberta à população para a orientação e detecção precoce de colesterol alto de origem familiar. Não há restrição de idade para participar. Serão atendidas desde crianças até idosos, de ambos os sexos, mediante a distribuição de 300 senhas.
Haverá medição de colesterol e dicas de nutrição saudável e atividade física, por especialistas do Instituto do Coração. A campanha se insere nas atividades do Hipercol Brasil, programa do Incor de rastreamento e tratamento da hipercolesterolemia familiar que é um dos maiores da América Latina. A ação do Incor de alerta à população tem parceria da Associação de Hipercolesterolemia Familiar, entidade formada por portadores da doença e seus familiares.