Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Quinta, 28 de Novembro de 2024

Sobreviventes da crise, aéreas brasileiras ensaiam recuperação

08/10/2020

 A retomada dos voos no mercado brasileiro dá fôlego a duas das companhias aéreas que sobreviveram à onda de pedidos de recuperação judicial na América Latina.

Gol e Azul - que juntas possuíam participação de cerca de 75% no mercado doméstico brasileiro em julho, segundo o Citigroup - observam recuperação mais rápida do que o previsto da demanda, apesar do nível ainda se encontrar bem abaixo dos patamares pré-pandemia. Investidores estão cada vez mais confiantes de que aéreas de baixo custo podem sobreviver à paralisação das viagens que levou três das maiores operadoras da região a pedirem recuperação judicial.

“As perspectivas são melhores, pois a recuperação da demanda doméstica no Brasil tem sido mais rápida do que o esperado, e pelo fato de a Azul e a Gol estarem focadas no mercado interno”, disse Josseline Jenssen, analista de crédito da Lucror Analytics. “A geração de fluxo de caixa deve melhorar com o aumento da receita.”

Títulos emitidos pela Gol e pela Azul mostram retorno de 70% e 45%, respectivamente, desde o fim de março em comparação com a queda de 6,5% do índice Bloomberg Barclays High Yield Airlines no período. E as ações dessas empresas subiram 53% e 31%, respectivamente, superando o índice Bloomberg World Airlines. No acumulado do ano, os dois papéis ainda mostram baixa de pelo menos 50%, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A Gol disse nesta semana que operou uma média de 270 voos por dia em setembro em relação a cerca de 40 voos diários em abril. A Azul espera operar com cerca de 55% da capacidade pré-Covid em outubro, o que supera sua projeção original de 40% até o fim do ano.

“Mais uma vez, nós continuamos a ver uma melhora na demanda doméstica de passageiros, na medida em que nos aproximamos da alta temporada no Brasil”, disse o presidente da Azul, John Rodgerson, em comunicado.

Na América Latina, os voos estão sendo retomados lentamente após o fim das restrições impostas por governos para conter a propagação do novo coronavírus. No pico da crise, Latam Airlines, Avianca e Grupo Aeromexico entraram com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, em meio às proibições e fraca demanda que as forçaram a aterrar aviões.

Operadoras da região quadruplicaram a capacidade em setembro em relação a maio, segundo dados compilados pela OAG Aviation.

A posição de liquidez da Azul, de R$ 2,3 bilhões no fim de setembro, equivale a uma reserva de caixa superior a 30 meses. As companhias aéreas também avaliam acessar o mercado de capitais para levantar mais recursos com o apoio do BNDES.

Diante do cenário mais positivo, recentemente analistas do Goldman Sachs, Raymond James e Deutsche Bank elevaram a recomendação para as ações das aéreas brasileiras para compra. A companhias podem “não apenas sobreviver, mas prosperar” no que deve ser um ambiente de baixas tarifas por um tempo, escreveram analistas do Deutsche Bank no mês passado.