Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Sexta, 29 de Novembro de 2024

Gol tem escala para seguir sozinha, negocia atenuantes para dívida de US$300 mi, diz presidente

23/06/2020

A companhia aérea Gol tem recursos em caixa para honrar dívida de 300 milhões de dólares que vence em agosto, mas está negociando alternativas para atenuar este impacto em estratégia para preservar seu caixa durante a epidemia de Covid-19, afirmou o presidente-executivo da empresa, Paulo Kakinoff, nesta quarta-feira.

 

O executivo participou de conferência online sobre o setor aéreo com representes do Ministério da Infraestrutura e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e promovido pela Airport Infra Expo.

"Temos este vencimento no mês de agosto, cujos recursos para amortização nós temos em caixa. Temos o objetivo de preservar o máximo possível o caixa e trabalhamos em alternativas para que estes compromissos possam ser atenuados", disse o executivo.

Questionado sobre o recente acordo de codeshare anunciado por Azul e Latam, Kakinoff afirmou que trata-se de uma tendência para o setor acelerar o fim do desequilíbrio entre oferta e demanda criado pela pandemia, mas que a Gol tem condições de seguir sozinha.

"A Gol hoje é uma empresa que tem 40% de participação de mercado. Temos escala suficiente para que a gente possa navegar por esse deserto e através de nossos ganhos de eficiência e viabilizar nossos planos", disse o executivo.

As ações da Gol exibiam queda de 1,4% às 14h32, enquanto os papéis da rival Azul tinham desvalorização de 1,1% e 6,9%.

Azul e Latam surpreenderam o mercado na semana passada ao anunciarem acordo de codeshare para conectar suas malhas domésticas, ilustrando como o setor aéreo está tentando otimizar a estrutura para enfrentar o impacto das medidas de quarentena. A parceria, que deve estar operacional em agosto, inclui inicialmente 50 rotas domésticas não sobrepostas de/para Brasília (BSB), Belo Horizonte (CNF), Recife (REC), Porto Alegre (POA), Campinas (VCP), Curitiba (CWB) e São Paulo (GRU).

"As empresas no mundo todo estão sofrendo ajustes e algumas delas se inviabilizando...e haverá quantidade significativa de fusões, não aquisições, porque as empresas estão em patamar de liquidez muito baixo", disse Kakinoff. "No nosso caso, não parece ser que faça muito sentido essa agenda."

O presidente da Gol também voltou a afirmar que as negociações da empresa com o BNDES e bancos privados para uma linha bilionária de financiamento seguem avançando e que podem atingir um acordo em breve, mas não deu detalhes. O setor negocia há meses a linha, mas as tratativas emperraram em questões como diluição acionária. Segundo Kakinoff, mesmo havendo um acordo do setor, a linha de financiamento "é uma alternativa para o setor. Essa linha não necessariamente será usada ou é única alternativa" para a Gol.

Questionado sobre a eventualidade de um grande acordo de codeshare entre as três empresas que operam aviação de passageiros no país, o presidente da Anac, Juliano Noman, afirmou que "isso não seria um problema para a Anac ou para o Cade", mas ponderou que será preciso fazer análises.

Segundo Noman, o nível do tráfego aéreo brasileiro subiu de 7% do que era antes do impacto do coronavírus em março e "já está em 25%". A expectativa é que o crescimento siga evoluindo até alcançar patamar de 50% a 60% do que era até o final do ano.

A indústria de aviação aguarda a aprovação no Congresso da Medida Provisória 925, que criou uma série de flexibilizações que ajudaram a preservar caixa de companhias aéreas e operadores de concessões aeroportuárias.

O secretário-executivo do Ministério da Infraestrutura, Marcelo Sampaio Filho, afirmou durante a conferência que a expectativa é que a MP, de março deste ano, seja pautada no plenário da Câmara dos Deputados na quarta-feira, incluindo emendas de interesse do setor, como a que impede a venda de direitos de judicialização de pedidos de indenização feitos por passageiros e a que trata de reperfilamento de dívidas de outorgas de operadores de concessões. A MP vence em 13 de julho.