737 Max: o avião que pode derrubar a Boeing
Quem podia imaginar que o Titanic não completaria sequer a primeira travessia atlântica? Quem diria que a China desaceleraria drasticamente em 2020, figurando no epicentro de uma grande crise? Nessa toada, quem diria que a Boeing, o grande ícone da economia americana, chegaria a 2020 exangue, cansada e com a reputação enlameada? No primeiro caso, havia um iceberg no meio do caminho e sobrava confiança desmedida no lado sorridente do destino. No segundo, um vírus foi o que bastou para colocar centenas de milhões de chineses de joelhos – para além das práticas políticas pouco transparentes. Quando se trata da Boeing, um erro de projeto do 737 Max levou a pique duas aeronaves. Os passageiros mortos talvez não correspondam sequer a 1% das pessoas que nesse exato momento voam em aparelhos da empresa em algum lugar do mundo. Mas o que fazer agora, senão encarar de frente os erros?
Ora, a Boeing faturou U$76,6 bilhões em 2019, com resultado negativo de U$636 milhões. Pela primeira vez, a carteira de pedidos do concorrente Airbus está adiante da empresa de Seattle. Ainda assim, seus números são gigantescos: 140 mil empregos diretos, 1,2 milhão de empregos indiretos e 12.161 terceirizados. Por trás de tudo, há em carteira 4.400 aparelhos junto a 106 companhias aéreas em todo o mundo, que recebe 75% de sua produção na aviação comercial. Dos 737 Max, 400 não foram entregues. Parceira chave da NASA e do Pentágono, não há como conceber a falência da empresa. Em breve, contudo, a crise do 737 completará um ano e nada deverá se resolver antes de junho. Desde que eclodiu, o presidente já renunciou. O vazamento de comunicados internos, em que os próprios engenheiros questionavam a segurança dos aviões, derrubou a credibilidade da marca a níveis inimagináveis.