Querosene sobe 60% e voos ficam até 40% mais caros no Brasil
Quem está planejando uma viagem de férias e busca passagens aéreas já observa que os bilhetes estão mais caros no Brasil. Em alguns casos, o preço subiu até 40%, principalmente em voos domésticos, conforme estimativas de representantes do setor. O motivo é a alta, em um ano, de 60% no valor do querosene de aviação. O combustível, conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), chegou ao preço médio de R$4,805 em março no Brasil.
Com um custo maior de operação, companhias aéreas como Latam, Azul e Gol anunciaram não só reajustes nos bilhetes, mas também ajustaram as ofertas de voos. Quem trabalha no setor, afirma que o impacto é mais sentido nas viagens domésticas. Jacqueline Brito, proprietária da JB Unique Travel, ressalta que nos passeios internacionais o crescimento no valor das passagens chega a 15%. Todavia, é possível encontrar boas promoções com pesquisa.
A empresária ressalta que voos para Salvador, saindo de Confins, tiveram aumentos expressivos, cenário semelhante ao de Maceió. Em uma cotação para uma viagem em julho, que antes custava entre R$800 e R$900, o preço encontrado foi de R$1.600. “O voo nacional está mais caro. Para o internacional ainda tem muita oportunidade boa, principalmente se for uma viagem planejada para os próximos meses”, ressalta.
A aposentada Maristela Silva, moradora de Belo Horizonte, tem viagem programada para Portugal em agosto. Ela conta que fez pesquisa em várias empresas e os preços das passagens estavam variando conforme os dias da semana, mas foi possível obter um desconto maior comprando diretamente com a companhia aérea.
Silva ainda vai reduzir o número de bagagens para economizar. “Se colocar mala despachada no bagageiro são mais R$800 para ida e para a volta. Vou me preparar para viajar com pouca roupa e mala pequena para baratear a viagem, especialmente porque é um período de verão intenso”, conta.
Impacto
Para Fernanda Nunes, gerente da UMA Viagens, o impacto já é observado no fechamento de novos contratos. Ela registrou um aumento no número de orçamentos, mas uma queda nas vendas concretas. “Quando a pessoa vê o orçamento pensa duas vezes”, conta. Nunes afirma que a demanda para viagens corporativas se manteve estável, com a consequência mais forte para passeios a lazer.
“Deu uma freada na demanda. Quando a pessoa tem uma flexibilidade dentro do mês, se tem os 30 dias de férias, fica mais fácil conseguir um preço interessante do que quando há uma data muito amarrada”, ressalta Fernanda que observou um crescimento de preços nos voos com destino ao Rio de Janeiro, Porto Seguro, Espírito Santos e cidades do Nordeste. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, o setor deve observar uma instabilidade até, pelo menos, os próximos 120 dias.
Sanovics, assim como cada companhia, não informa quais rotas são impactadas. “Mas são, principalmente, os lugares mais distantes dos centros de produção e distribuição do querosene. Nestes locais o combustível é mais caro e a demanda é menor”, explica. Ele estima que as companhias podem reduzir à metade o número de voos para determinados destinos. “Cada empresa vai definir conforme o custo que a rota passa a ter e a capacidade da região de arcar com aquele custo. Às vezes sobe tanto que pode não encontrar número de passageiros suficiente que justifique a operação”, analisa.
Confins ainda não notou mudanças
No Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na região Metropolitana de Belo Horizonte, os impactos das análises de rotas que estão sendo realizadas por companhias ainda não foram dimensionados. A reportagem questionou a BHAirport, concessionária que administra o terminal, se houve queda no número de viagens e ofertas de voos.
Contudo, a empresa informou que só é possível fazer uma previsão exata dos impactos na primeira quinzena de abril. Para o presidente da Abear, o cenário não permite previsões. “O câmbio e o petróleo estão completamente fora de controle. Nós prevíamos estar com a malha pré-crise (pandemia) até o final de março e isso está comprometido”, afirma Eduardo Sanovics.
Crescimento do querosene deixa gasolina para trás
Entre janeiro e março deste ano, segundo estudo feito pela Abear, o querosene de aviação foi o combustível precificado pela Petrobras que mais subiu de preço no país. O crescimento foi de 15,9%, enquanto o valor do litro do diesel subiu 7,8% e da gasolina 3,6%. “Estamos vivendo uma crise continuada, na qual antes de sair da anterior (pandemia), nós mergulhamos na seguinte em consequência dos efeitos da guerra sobre os custos dos combustíveis”, assinala o presidente da associação, Eduardo Sanovicz.
Conforme a Abear, o querosene e lubrificantes representam 25% dos custos do setor. Relatório publicado pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) diz que o preço médio da passagem aérea no Brasil, em 2021, foi de R$494. O valor supera em 19,28% a tarifa de 2020 comercializada por R$414,15. “Esse foi o maior percentual acumulado para um ano desde de 2008, quando houve aumento de 37,82%”, atestou a ANAC;
A agência atribui o recorde ao crescimento do preço médio do querosene. Outro fato que pesou na balança, informa a ANAC, foi a crescente de 40% na demanda por transporte aéreo em 2021, se comparado com 2020.