Latam adia lançamento de rotas após disparada no petróleo, diz presidente
A disparada do petróleo provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia levou a Latam Brasil a estudar diversos ajustes na sua operação, afirmou o presidente da companhia, Jerome Cadier, em conversa com o Valor. Hoje, o grupo tem se debruçado sobre a meta de abertura de novos destinos, que passou a ser revisitada e alguns deles serão postergados em até quatro meses.
“A gente não descartou nenhuma rota, mas vamos postergar o lançamento de algumas de março e abril para junho e julho. Tem um atraso no lançamento de três a quatro meses”, disse o executivo.
No Brasil, o combustível representa cerca de 35% dos custos operacionais das companhias aéreas. Com o derivado do petróleo mais caro, rotas acabam deixando de ser lucrativas e frequências passam a ser reduzidas.
A Latam opera hoje em 49 destinos nacionais, contra 44 antes da pandemia. Embora descarte encerrar destinos, Cadier destacou que a empresa já espera uma redução nas frequências e que, por isso, a Latam não deverá operar acima dos níveis pré-pandemia no primeiro trimestre e segundo trimestre deste ano.
Antes, a Latam tinha como estimativa retomar 105% da oferta no primeiro trimestre. Agora, o executivo espera uma queda entre 5 e 6 pontos percentuais nessa projeção. “No segundo trimestre a gente esperava algo entre 8% e 9% de oferta acima do pré-pandemia. Agora, a gente espera 10% de redução no plano original”, afirmou.
Cadier explicou que as altas no petróleo que se desencadearam após a invasão da Ucrânia pela Rússia ainda não chegaram no preço do QAV (querosene de aviação), mas que antes mesmo do início efetivo do conflito o mercado já estava em forte tendência de alta.
“Os reajustes vão chegar pesados. É coisa de 25%, 30%. Na segunda quinzena é que costuma ser o reajuste do nosso principal aeroporto, o de Guarulhos. Mas hoje mesmo nós já pagamos mais caro do que dezembro. O petróleo veio subindo em antecipação à guerra”, disse.
O executivo reforçou a defesa levantada pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) na direção de que, caso medidas para conter o salto no preço dos combustíveis sejam adotadas, que o QAV seja incluído. “A gente quer que na decisão o combustível seja incluído. A alta do petróleo não impacta só o diesel”, disse.
O executivo destacou que 2021 foi um ano desafiador, mas de vitórias. “Tivemos um susto com a segunda onda, mas a partir do mês de abril fomos adicionando capacidade a cada mês. O último trimestre fechou bem no resultado operacional. 2021 deixou um gosto positivo, principalmente no final”, disse.
O grupo chegou a ter problemas em janeiro com a contaminação da tripulação com a variante ômicron e a influenza. O cenário de contaminados na equipe agora já se normalizou.
O grupo agora tem dado passos importantes para encerrar o seu processo de recuperação judicial (tocado nos Estados Unidos, dentro do chapter 11). “Esperamos agora a decisão do juiz [da Corte de NY]. Não há uma data para que isso aconteça. É um pronunciamento importante porque a gente espera que ele libere o plano para votação”, disse. A meta do grupo é sair do chapter 11 já no segundo semestre deste ano.