Por que o preço do bilhete aéreo está tão caro? Entenda e previna-se
Uma consulta no site das companhias revela que os bilhetes aéreos estão mais caros. Simulamos uma viagem de Belo Horizonte para Maceió, um dos destinos mais procurados pelos mineiros, no Carnaval e na baixa estação: na Gol, o bilhete está, em média, R$ 1.564,90 o trecho para o feriado e R$ 633,90 o trecho para o período de 18 a 25/3, com uma, duas ou três escalas, dependendo do horário escolhido.
Na Latam, a tarifa média é de R$ 781 ida ou volta para os dois períodos com apenas uma escala. Na Azul, o valor é de R$ 1.860 o trecho para o Carnaval e R$ 1.155,90 o trecho para março. Na página da Azul, uma mensagem incentiva o viajante a comprar passagens a partir de R$ 189 em até dez vezes sem juros. Na Gol, o estímulo vem por meio de 12 x R$ 163, 83 o trecho para compras no cartão de crédito.
Paulo Testa, diretor da Interpool Viagens, define o momento como a “a lei da oferta e da procura em um cenário de guerra”. Para o operador, não tem outra explicação para o que chama de “total desequilíbrio”. “Você encontra um destino como Fortaleza na Semana da Criança (12 de outubro), com tarifas entre R$ 900 e R$ 3.800 com o mesmo tempo de voo e horários”, explica Testa.
O segredo para o passageiro, segundo ele, é consultar um agente de viagens que tem essa expertise e pesquisar. "Eu vendi muito Salvador, que tem um aéreo mais barato pela oferta, muita malha, voos, para um cidadão que estava indo para Natal, Fortaleza, e adiou, preferindo viajar para a Linha Verde, Morro de São Paulo, via capital baiana", explica Testa. A mesma lógica vale para Porto Seguro, um dos destinos mais populares da Bahia, hoje caro por conta da malha aérea insuficiente. "Compro um frete por R$ 1.000 e chego a vender um aéreo por R$ 4.000".
Internacional
As tarifas altas não são privilégio da malha aérea doméstica, embora nas viagens internacionais elas oscilem menos. “O valor médio em dólar caiu para compensar a alta do câmbio”, observa Rafael Romeiro, diretor da FVO Travel. “Não acho que o internacional encareceu, mas o doméstico está bem mais caro do que antes”, enfatiza. “Está difícil conseguir uma passagem BH–SP abaixo de R$ 800 o trecho comprando próximo à viagem, antres eu comparava na média de R$ 200”, acrescenta.
As margens de lucro baixas levaram operadores como a FVO Travel a abrir mão do bilhete aéreo nos pacotes de viagens. “Eu praticamente não vendo mais aéreo. A gente focou só o terrestre, e este já era um movimento que vinha ocorrendo antes da pandemia, que acabamos de sacramentar. As margens das companhias não justificam uma agência comprar aéreo por meio de operadora, dá muito trabalho ganhar apenas 1%, 2%”, afirma. Também tem sido mais difícil conseguir disponibilidade e bons valores na classe executiva do que na econômica, pontua o operador.
Posicionamento das companhias aéreas
Consultada pela reportagem, a Azul disse, por meio de nota, “que os preços praticados na comercialização de seus bilhetes variam de acordo com fatores como trecho, sazonalidade, compra antecipada e disponibilidade de assento”. A Gol afirma que “a combinação desses fatores é que governa o preço” e “que a companhia adota o modelo de precificação dinâmica”, o mesmo argumento da Latam. Ente os fatores estariam compra antecipada, preço do combustível, sazonalidade, origem e destino do voo.
"É impossível compensar por meio da eficiência todo o aumento de custos com câmbio e com combustível no setor aéreo. Por isso, infelizmente, parte desse custo maior impacta no aumento da tarifa. Hoje, 65% dos custos da empresa são dolarizados e o combustível da aviação representa em torno de 35% das despesas", destaca a Latam em um comunicado.
Combustível em alta
Todas, no entanto, destacam que as tarifas têm influência de indicadores macroeconômicos. Para Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o aumento de custos no setor, principalmente dos combustíveis, tem penalizado os viajantes. O preço do querosene de aviação (QAV) acumulou alta de 76,2% de 4/1 a 13/12/2021, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
“A disparada do preço do QAV mostra como os custos estruturais do setor aéreo nos preocupam e podem inibir uma retomada consistente da aviação comercial. Ainda temos a pressão dos constantes recordes de cotação do dólar em relação ao real, já que mais de 50% de nossos custos são indexados pela moeda norte-americana”, afirma Sanovicz. O QAV teve valorização no ano passado acima do diesel (+56%), gasolina (+42,4%) e gás de cozinha (+36%),
Pesquisa trimestral
De acordo com a Agência Nacional de Aviação (Anac), que publica um relatório trimestral, a tarifa aérea média doméstica no terceiro trimestre de 2021 foi de R$ 529,93, o que equivale a um aumento de 45,3% em relação ao mesmo período de 2020.
De janeiro a setembro, 5,1% das passagens foram comercializadas com tarifas abaixo de R$ 100 e 42% abaixo de R$ 300. As passagens acima de R$ 1.500 representaram 2,2% do total. Em relação ao mesmo período de 2020, as tarifas da Azul, da Gol e Latam subiram 37,2%, 54,2% e 44,1%, respectivamente.
Enquanto o “cenário de guerra” permanece e as viagens não voltam à normalidade, a alta dos combustíveis e do dólar, além da nova realidade da pandemia, tem adiado os planos de muitos viajantes. É o caso do jornalista Frederico Bussinger, 51. “Eu e minha esposa estamos completando 20 anos de casados e pensamos em ir para a Europa. Depois dessa nova fase da pandemia, decidimos ficar na América do Sul. Há muitas restrições, e está tudo caro”.
Pesquisar muito
O melhor conselho neste momento vem do operador Paulo Testa: “O segredo para o passageiro é consultar um agente de viagens que tem expertise e pesquisar muito. Se estiver caro demais, adie o destino para outro e no ano que vem você vai para aquele lugar tão sonhado”.
Outro conselho útil é ficar de olho (ou se inscerever) nas promoções relâmpago de sites especializados. Porque muitas empresas aéreas querem recuperar o tempo perdido na pandemia e estão pesando a mão sobre o bolso dos consumidores.
Serviço
Como pesquisar tarifas
- Usar ferramentas e alertas de aplicativos e sites buscadores de passagens;
- Ficar de olho nas promoções dos sites e das companhias de madrugada;
- Pesquisar preços de bilhetes com muita antecedência;
- Tentar ser flexível e viajar na baixa estação, fora de feriados e festas de fim de ano; fugir de destinos da moda; evitar dias e horários de voos com alta procura; escolher os voos que têm conexão.