Aviação Regional: voos para Lábrea e Carauari são cancelados
Manaus/AM - Lábrea e Carauari foram os primeiros municípios amazonenses a sentir os impactos da compra da MAP e Passaredo (VOEPASS) pela Gol Linhas Aéreas. Os voos de Manaus para as duas cidades foram cancelados sem justificativa pela companhia aérea. O empresário do segmento do Turismo, Orsine Júnior, já havia alertado sobre a possibilidade de cancelamento dos voos há duas semanas.
Entre as justificativas apresentadas pelo empresário está o fato da Gol demonstrar interesse em investir nos slots que a MAP e Passaredo possuíam no Aeroporto de Congonhas. Slots são direitos e prioridades que as aeronaves de companhias aéreas têm de pousar e decolar em aeroportos congestionados.
“Com o processo de finalização dessa compra, a Gol não vai disponibilizar serviços para a nossa região e o exemplo é o cancelamento de voos para Lábrea e Carauari. Os investimentos serão direcionados aos slots de Congonhas, já que a lucratividade de voos regionais é pequena. Com isso, os aviões que voavam de Manaus para o interior do Estado, com certeza, passarão a ser utilizados nas regiões Sul e Sudeste”, disse o empresário.
Para não haver mais cancelamentos de voos para o interior, Orsine Júnior destaca a necessidade de atenção dos governos municipais, estadual e federal. “Por conta da lógica da estratégia do mercado da aviação, nós já prevíamos alguns cancelamentos e outros que podem vir a acontecer, se não tivermos intervenções do Poder Público”, pontuou.
Ainda segundo o empresário, entre as cidades que podem perder voos, em breve, estão Parintins, Tefé e Coari. “A Passaredo vai deixar de operar na região e isso é fato. A Gol não vai ter investir na nossa região”, advertiu o executivo, ao pontuar que as companhias aéreas que atuam na aviação regional contam com benefícios fiscais.
Solução
Para o interior do Estado não ficar refém da Gol, o empresário cita medidas que podem ser adotadas pelo Poder Público. Entre as ações sugeridas por ele para fortalecer o setor aeroportuário regional estão:
“A atuação do governo Estadual por meio da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) e Fundo de Fomento ao Turismo (FTI); precisamos de balizamento nos aeroportos no interior; melhor qualidade na infraestrutura aeroportuária da região; e incentivos às empresas de táxi-aéreo”, pontuou.
Audiência pública
O cancelamento de voos também virou pauta na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALEAM). O deputado estadual Adjuto Afonso (PDT) sugeriu a realização de uma audiência pública para discutir com a Gol, Poder Público e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) o cancelamento dos voos para o interior do Estado.
“Precisamos desse engajamento e envolvimento de todos. Não podemos ver essa situação ganhar força, pois precisamos de conectividade e não do isolamento do interior”, concluiu o empresário do Turismo, Orsine Júnior.
Resposta
Entramos em contato com a Gol e Passaredo. A Passaredo, por meio de nota, informou que em dezembro de 2021 realizou uma readequação programada em sua malha no Amazonas para tornar a operação mais eficiente. A companhia informa ainda que a malha definida no final do ano passado é a que permanece em atividade.
Em relação ao cancelamento do voo para Lábrea, a empresa ressalta que, devido às restrições operacionais no aeroporto da cidade, tinha autorização para executar apenas um voo por semana, o que tornava a operação ineficiente. Porém, mesmo diante do cancelamento, há a intenção de retomada de operações em Lábrea, incluindo ligação direta para Porto Velho, capital de Rondônia.
Já sobre Carauari, a Passaredo garante que os cancelamentos de voos para a cidade foram pontuais e por motivos técnicos e meteorológicos.
A compra da MAP/Passaredo
A GOL comprou a MAP no dia 8 de junho de 2021 pelo valor de R$ 28 milhões. A transação comercial foi aprovada, sem restrições, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e já tornou a decisão definitiva.
Na época da compra, a GOL informou visar a disponibilidade de novos destinos e rotas no aeroporto de Congonhas, em São Paulo e, com isso, expandir o número de assentos por voo e ter maior eficiência de gastos.
Antes da compra, a MAP era a quinta maior empresa aérea brasileira, com frota de sete aeronaves ATR e 70 assentos que operavam em rotas da Região Amazônica, a partir do aeroporto de Manaus, e nas Regiões Sul e Sudeste, a partir do Aeroporto do Congonhas.