Acesso à vacina torna mais gritante as desigualdades
Assistimos no mundo dois cenários muito distintos. Aqui no Brasil em todos os estados e regiões estamos sofrendo o desespero da falta de vacinas, a angústia dos idosos em tomara a primeira dose do imunizante e não saber de terão a segunda para completar o que eu esquema vacinal e a tristeza de ver amigos e parentes perdendo a vida para a pela Covid-19.
A verdade é que Covid não vê classe social, raça e gênero, mas as dificuldades no acesso à vacina tem tornado ainda mais gritante as desigualdades. Do outro lado do globo, em países da Europa e Estados Unidos, a realidade é muito diferente do Brasil. Com mais da metade da população imunizada e com vacinas em quantidades mais do que suficientes para atender não só moradores locais, mas também turistas, essas regiões passam a viver o novo normal, frequentado estaduais de futebol, espetáculos, casas noturnas, teatros, cinema entre outros.
Em cidades como Miami e Nova York as vacinas estão disponíveis para todos os cidadãos maiores de 16 anos e prefeitos já estudam uma campanha para convidar turistas a irem se vacinar nesses locais. No Brasil, pessoas enfrentam longas filas na expectativa de conseguirem ser imunizadas e, muitas vezes, saem de lá com uma resposta negativa. O calendário de imunizacao nacional travou nos 60 anos. Vacinamos a população idosa e ponto final, todas as demais faixas etárias que vem abaixo não tem qualquer perspectiva de receberem a vacina.
Quando assisto aos jornais e vejo o presidente da república inconsequentemente defendendo medicamentos ineficazes contra a Covid-19 e zombando da vacina penso: que tipo de cidadão egoísta insiste em negar a única saída comprovada para a pandemia e para a economia? Será que ele não pensa em quantos milhares de brasileiros ganham a vida na indústria cultural, quantos perderam os empregos com o fechamento das salas de cinema, e em todos os artistas impedidos de viver da sua arte com o cancelamento de shows e música ao vivo em casas noturnas? Não é possível que o Jair Bolsonaro se esqueça de quantas milhares de pessoas trabalhavam em companhias aéreas, hotéis, atrações turísticas e dependiam direta e indiretamente do turismo para sustentarem a si mesmos e às suas famílias. Aqueles países que acreditaram na ciência e que não negaram a doença e nem a vacina estão se vendo livres da Covid-19.
O artigo 196 da Constituição prevê que "a saúde é direito de todos e dever do Estado". Façamos uma reflexão: incentivando aglomerações, pregando o uso de medicamentos ineficazes e negando ao brasileiro a vacina, que poderia ter sido adquirida há quase um ano, o governo federal tem cumprido a constituição, tem garantido ao povo brasileiro o direito à Saúde? Lamento dizer que não!
Enquanto brasileiros abastados, considerados superprivilegiados, recorrem ao turismo da vacina viajando para fora do Brasil para receber em outro país a vacina que, por direito constitucional, deveria receber aqui, a imensa maioria do povo brasileiro é refém da omissão e do negacionismo, sendo obrigado a fazer a única coisa que lhe resta: esperar diante do medo de não saber se será a próxima vida da Covid-19.
Na contramão dos países que já organizam a retomada do turismo, aqui o brasileiro apenas sonha se um dia isso será possível. Em meio à pandemia de coronavírus, o índice de atividades turísticas despencou 36,7% em 2020 frente a igual período de 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O setor de turismo foi um dos mais afetados pela pandemia dentro das atividades de prestação de serviços, sobretudo os segmentos de alojamento, alimentação, serviços prestados às famílias e transportes. Todas as 12 unidades da federação investigadas pelo IBGE registraram taxas negativas, com destaque para São Paulo (-40,0%), seguido por Rio de Janeiro (-30,9%), Minas Gerais (-35,2%), Bahia (-37,2%) e Rio Grande do Sul (-43,3%).
A ciência e os exemplos ao redor do mundo nos mostram que é absolutamente impossível a recuperação econômica sem conter a crise sanitária. Sem expectativas, o brasileiro sucumbe à falência, ao desemprego, à fome e ao medo de ser a próxima vitima fatal da Covid-19.