Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Quinta, 28 de Novembro de 2024

Apesar da crise e da pandemia, duas novas aéreas dos EUA se preparam para começar a voar

20/03/2021

xbreezeairwaiscrop-jpg-pagespeed-ic-Cy1DdnbEjC

Um ano depois do início da pandemia, o setor de viagens aéreas de passageiros nos EUA continua mais ou menos na metade dos níveis pré-Covid e pode levar tempo para se recuperar totalmente. Será que é hora de inaugurar uma empresa doméstica nova? E o que dizer de duas? Alguns veteranos da indústria, hoje empresários, acham que sim. Fique de olho que já, já você vai poder voar pela Avelo Airlines e pela Breeze Airways, ambas de baixo orçamento.

Avelo Airlines

Andrew Levy, ex-presidente da Allegiant Air, comprou a XTRA Airways, de voos fretados, em 2018. Rebatizou-a de Avelo e planejou transformá-la em uma aérea de baixo custo e voltada para o consumidor, atuando nos aeroportos menores para servir áreas metropolitanas amplas. O início oficial das operações da empresa de Houston está marcado para o início de abril; enquanto isso, a companhia vai finalizando os últimos detalhes, e mantém os destinos no mais absoluto segredo.

Levy esperava que os primeiros voos pudessem se realizar em novembro, mas a pandemia forçou a aérea a diminuir o ritmo; agora, porém, ele acha que a conjunção de uma série de fatores aponta para abril como o melhor momento para o lançamento.

— As principais companhias reduziram o número de voos, por isso há capacidade de portão e de espaço administrativo onde antes não existia. É também um bom momento para contratar tripulantes e gente experiente para outros cargos, já que houve muitas demissões no setor e várias empresas ofereceram pacotes para aposentadoria precoce. Para completar, os aviões nunca estiveram tão baratos — conta.

A Avelo vai operar com aeronaves Boeing 737-800, cada uma com capacidade para 189 passageiros. Trabalhar com um modelo só ajuda a reduzir os custos, pois os procedimentos de manutenção, a substituição de peças e o treinamento de pessoal são mais uniformes.

Segundo Levy, três fatores externos serão vitais para o sucesso de sua empresa: a demanda acumulada para viagens; o aquecimento da economia; e mais notícias positivas sobre a pandemia e a disponibilidade da vacina, que farão com que o público se sinta à vontade com a perspectiva das viagens.

Embora a empresa não tenha confirmado suas rotas, uma reunião de comissão pública recente e os anúncios de vagas em seu site apontam para o Aeroporto de Hollywood Burbank, na Califórnia, como uma das bases.

Levy confirma que as primeiras rotas serão entre aeroportos que atualmente não contam com ponte aérea entre si:

— Não queremos entrar para fazer o que os outros já estão fazendo.

No momento, os preços de todas as passagens estão baixos, por isso Levy pretende competir enfatizando a conveniência que vai oferecer. Ele aposta no apelo que os voos saindo de aeroportos menores, mais próximos de casa, terão para o passageiro.

Breeze Airways

A outra novidade do mercado, a Breeze Airways, situada em Salt Lake City, também pretende ser uma companhia de baixo orçamento focada em rotas que atualmente não oferecem serviço direto, incluindo alguns aeroportos que as empresas maiores deixaram de servir. Foi fundada em junho de 2018 pelo brasileiro-americano David Neeleman, veterano da aviação responsável pela abertura de outras empresas como a WestJet e a Morris Air, também de baixo orçamento e que foram compradas pela Southwest, e também a Azul, no Brasil. A Breeze vai começar a operar 21 anos depois que Neeleman lançou a JetBlue.

— A estratégia sempre foi servir os aeroportos menores, mas a escolha dos locais específicos para começar foi influenciada pela pandemia. Uma companhia nova pode até ser seletiva com as rotas iniciais, que oferecem maiores oportunidades, e aí reforçar o foco nesses mercados depois de ter a certeza de que estão indo bem — explica.

A companhia espera receber a certificação final do Departamento de Transportes no próximo mês — época em que então anunciará as rotas e as datas iniciais de operação e de compra de bilhetes.

Enquanto isso, já começou a receber os primeiros aviões — sendo que vai trabalhar com o A220 da Airbus e dois modelos da Embraer.

— São de um tom azul metálico, o que faz com que se destaquem no céu. Quando se vê um sobrevoando, dá para reconhecer imediatamente — garante o porta-voz Gareth Edmonson-Jones.

Embora as aéreas de baixo orçamento passem a impressão de "aperto" ou de "coisa barata" — detalhe do qual, em tempos de pandemia, muitos passageiros têm ainda mais consciência —, as duas novidades estão se esforçando para evitar essa sensação. As aeronaves da Avelo pretendem receber o número padrão de passageiros, mas a companhia quer criar uma "cultura voltada para as pessoas" e dar ênfase ao serviço ao cliente. A Breeze oferecerá alguns assentos com espaço adicional para as pernas.

  Mas no fim das contas a sensação de voar com uma companhia 'popular' não vem só da questão de espaço, mas sim de uma experiência ruim. A Breeze está preocupada em proporcionar uma viagem agradável a todos os passageiros — assegura Edmonson-Jones.

A companhia disse que oferecerá flexibilidade para reservas e permitirá um item pessoal a bordo, e acredita que as limitações de assento não serão mais necessárias quando começar a voar. A Avelo ainda não anunciou detalhes como políticas de reserva-cancelamento, taxas para bagagem de mão e restrições de assentos relacionadas à pandemia.

A opinião dos analistas

Há outros fatores que pesam a favor das novas empresas.

— Há uma tendência, que inclusive já se vê há algum tempo, do pessoal se mudando para cidades menores por causa da flexibilidade do home office, ou seja, é um novo grupo aí que vai precisar de serviços. É uma mudança que cria oportunidades para as aéreas domésticas novas, que entram nos aeroportos menores, principalmente porque as companhias maiores estão se retraindo — diz Sherry Stein, diretora de estratégia de tecnologia da Société Internationale de Télécommunications Aéronautiques.

Para Jonathan Kletzel, que acompanha o setor aéreo para a consultoria PwC, o consumidor está aberto para conferir uma novidade como o lançamento de uma nova companhia aérea. Segundo a análise que fez para seu grupo, pelo menos entre os próximos três a seis meses os passageiros darão prioridade à limpeza, à segurança e ao preço, e não aos programas de fidelidade.

A demanda acumulada das viagens para o mundo todo é evidente. A aérea de baixo orçamento EasyJet, de Londres, viu um aumento nas reservas quando o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou, em 22 de fevereiro, o plano para afrouxamento de restrições de viagens. A irlandesa Ryanair também registrou movimento semelhante depois das notícias.

É claro que há riscos em fundar uma empresa aérea em clima de tensão econômica: é preciso um investimento imenso, obediência à risca a uma longa lista de regulamentos, contratos complexos e gestão de instalações, além do desenvolvimento e da implementação de procedimentos de segurança impecáveis. Sem contar a concorrência, que é grande, encardida e poderosa.

Ainda assim, atendendo a regiões específicas, controlando custos e de olho na aceleração da vacinação, a Avelo e a Breeze apostam no sucesso.