Como a herdeira da TAM decidiu abandonar a aviação para criar uma franquia de educação bilíngue
Dentro da primeira sede da antiga TAM Linhas Aéreas – atual LATAM Airlines Brasil -, Maria Cláudia Amaro comemorou aniversários e aprendeu a andar de bicicleta. Filha do fundador da empresa, Rolim Amaro, ela cresceu em meio ao avanço das companhias aéreas no Brasil e aprendeu mais do que um simples pedalar pelos corredores do local. Após alguns anos cursando Marketing e Comunicação nos Estados Unidos, trabalhou na área de serviço de bordo definindo cardápios e montou uma estratégia de marketing para a empresa, que até então não tinha muito apelo identitário.
A experiência na companhia aérea foi essencial para sua carreira, já que a executiva teve a chance de vivenciar, durante anos, o que era empreender com propósito. “Minha vida mudou de rumo”, relembra. Em 2014, após acompanhar – desde a infância – o crescimento da companhia, começou naturalmente a nutrir o desejo de fazer outra coisa. “Eu já tinha feito de tudo nessa área e, de repente, comecei a lidar com a dificuldade da minha filha mais velha para se adaptar à escola”, conta. Mais do que um momento de preocupação materna, o acontecimento acendeu uma chama intensa de interesse pelo mundo da educação.
“A escola não sabia como olhar para uma criança que não tivesse o foco em matemática e sim em artes, por exemplo”, explica a empreendedora. Em paralelo a esse insight, decidiu visitar a ONG Casa do Zezinho, no Capão Redondo, bairro do extremo da zona sul, e começou a entender um pouco a realidade educacional das periferias de São Paulo. “Notei que eles trabalhavam com muito afeto para acolher as crianças. Percebi o quanto o carinho, junto com a pedagogia, é algo transformador.”
Emocionada por uma realidade que até então estava distante de seus olhos, Maria Cláudia se afastou de vez do mundo corporativo e decidiu mergulhar nesse novo universo. “Entrei em grupos de mães, fui conversar com pessoas da área e viajei para saber o que tinha de diferente na área da educação ao redor do mundo.” Seu primeiro pensamento era criar uma escola própria, e para isso precisava entender quais eram as dificuldades e as possíveis soluções de um setor tão complexo. “O Brasil é multicultural. A realidade de uma criança de São Paulo é diferente de uma do interior do Mato Grosso. Eu precisava entender o que de fato poderia ser implantado.”
Em meio a todas as complexidades que encontrou pelo caminho, a empreendedora lembrou de um forte pensamento da época em que trabalhava na LATAM. “No setor aéreo, a gente costuma dizer: o bilhete da ida nós vendemos, o da volta quem vai vender é a tripulação.” De certa forma, isso fez com que ela percebesse que na educação o raciocínio poderia ser parecido. “Quando a porta da sala fecha, o trabalho é com o professor. Temos que olhar para eles de forma profissional e certeira para que os alunos sintam-se acolhidos.” Essa reflexão deu origem à Rhyzos Educação.
Fundada no final de 2017, a Rhyzos tem como objetivo criar, desenvolver, apoiar e investir em negócios e iniciativas de educação básica. Por meio de workshops, oficinas e cursos, o projeto incentiva práticas como o design thinking e o bilinguismo durante o processo de aprendizado. “Queremos modernizar a educação sem que isso caia em uma moda passageira. Nós impactamos a vida de seres humanos, precisa ser algo sério”, destaca.
Idealizado pela pedagoga Ana Gurgel, o projeto propõe uma imersão total do inglês na grade curricular estudantil, mais especificamente até o final do Ensino Fundamental II. “Na minha época, o curso de inglês era separado da escola convencional. Já no TWICE, as crianças não têm aulas ‘de’ inglês, e sim ‘em’ inglês. São aulas de matemática, ciências e geografia, por exemplo, todas com vocabulário estrangeiro”, explica Maria Cláudia. Impressionada com o impacto que o método pode gerar, a empresária adquiriu o TWICE, que agora faz parte do portfólio de negócios da Rhyzos Educação.
Maria Cláudia também espera conseguir impactar cerca de 100 mil estudantes em todas as regiões do estado de São Paulo. “Ao conquistarmos a maior cidade do país, conseguiremos avançar pelo Brasil.” Além disso, o contato com as escolas da periferia, grande responsável pela transformação de sua vida, ainda segue como uma ideia fixa. “Meu grande objetivo é montar um sistema de bolsas dentro dessas escolas que já adotam o sistema TWICE. O que eu quero para as minhas filhas, quero para todos os jovens brasileiros.”