De 27 casas para acolher mulheres vítimas de violência poucas funcionam
Uma iniciativa anunciada há seis anos para acolher brasileiras vítimas de violência só foi totalmente implantada em dois estados.
Uma mulher que prefere não mostrar o rosto foi ameaçada pelo ex-companheiro várias vezes. Ela chegou a procurar a Delegacia da Mulher, registrou três boletins de ocorrência, tentou pedir medida protetiva, mas diante da dificuldade e da burocracia acabou desistindo.
"Eu perdi quatro meses correndo de um lado a outro, era Fórum, era delegacia e acabava vindo para casa mais desiludida, desmotivada. E aí acabei que deixei para lá", afirmou.
Muitas mulheres ainda passam por isso quando tentam romper o ciclo da violência. Em 2013, um projeto do governo federal previa a construção de centros de apoio em todo o Brasil. Mas até hoje a maioria ainda não saiu do papel.
Em Santa Catarina, o governo do estado chegou a doar para a União um terreno para a construção da Casa da Mulher Brasileira. A ideia era que as vítimas encontrassem no local vários serviços como delegacia especializada, Defensoria Pública, psicólogos e uma casa de passagem. É uma área grande, quase nove mil metros quadrados bem na região central da cidade. Mas, até hoje, nem sinal da obra.
“Estamos aguardando alguma manifestação do governo federal em relação ao programa ou à construção da Casa da Mulher Brasileira”, disse Aretusa Larroyd, coordenadora estadual da mulher.
Das 27 casas previstas, apenas sete foram construídas. E, apesar dos mais de R$ 70 milhões investidos, só duas estão oferecendo todos os serviços. A de Mato Grosso do Sul foi inaugurada em 2015. Já recebeu mais de 50 mil mulheres.
“Somos 232 funcionários compromissados com a política pública. Nós queremos dar visibilidade para outras mulheres que ainda não se encorajaram, que precisam buscar ajuda”, afirmou Tia Loschi, coordenadora da Casa da Mulher (MS).
A casa do Distrito Federal foi inaugurada em 2015, mas acabou interditada em 2018 por problemas na estrutura. Já em São Paulo, a Casa da Mulher começou a ser construída também em 2015, mas ainda não foi entregue por causa de problemas jurídicos. A última previsão é de que seja inaugurada ainda no primeiro semestre de 2019.
“O Brasil precisa desse tipo de estrutura para combater a violência doméstica e familiar”, reiterou Tia Loschi, coordenadora da Casa da Mulher (MS).
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos declarou que está fazendo um levantamento e várias tratativas com o objetivo de encontrar soluções para o pleno funcionamento das Casas da Mulher.