"A vida é surpreendente: você planeja toda uma trajetória e, de repente, em uma curva do destino, a história muda completamente”, diz Cleonice de Souza Ferreira a respeito da surpresa de se tornar mãe aos 49 anos e sem realizar qualquer tipo de tratamento de reprodução assistida. “Descobri a gravidez quando já estava com sete meses de gestação, no pós-cirúrgico para a retirada de uma hérnia no umbigo”, revela a relações públicas, gestora cultural e empreendedora social, hoje com 52, e mãe de Laura, criança que, ao contrário dos prognósticos circunstanciais, nasceu saudável e pesando quase 4 kg.
“É uma história realmente especial, que pegou a mim e aos médicos totalmente de surpresa. Antes de escutar o coração dela batendo no exame de ultrassom – momento em que descobrimos a gravidez –, chegaram a suspeitar de um câncer. Na sequência, os sentimentos foram bem confusos pois a gestação já estava evoluída, mas até então não havia feito qualquer acompanhamento pré-natal e, literalmente, vivi ao mesmo tempo em que corria risco de morte com o quadro da alegria de esperar uma criança”, conta.
A surpreendente história de Cleonice começou a ser escrita em 2012, quando ela conheceu o pai da filha, Magno, com quem namorou. Apesar de o relacionamento fluir, a ideia de formar uma família não estava nos planos do casal. “Sempre pensei em ser mãe, mas fui cuidando da carreira, gostava de estudar, passei a trabalhar em projetos direcionados aos cuidados com crianças e adolescentes e aquele desejo acabou ficando adormecido. Nunca evitei filhos, mas, apesar de os exames de rotina serem normais, eles não vieram e segui em frente. Tanto que já sentia os primeiros sinais da pré-menopausa e estava com o ciclo menstrual irregular quando descobri que estava grávida.”
Menina festejada
Após a descoberta, Cleonice conta que recebeu todo o apoio da equipe médica do Hospital das Clínicas, da rede pública de saúde, em Belo Horizonte. Conta ainda que estava gordinha à época e que não percebeu os movimentos do feto que crescia em sua barriga por que a ideia de uma gravidez nem passava pela cabeça.
“Sempre fui hipertensa e também fazia controle de um tratamento no fígado. Além disso, estava com 49 anos e queda nas taxas hormonais... Tanto que o pré-natal foi de alto risco e precisei ficar 23 dias hospitalizada para estabilizar o líquido amniótico, a pressão arterial, fazer controle da glicemia. No início, fiquei sem reação, literalmente sem rumo, mas recebi apoio muito grande do pai da Laura, da equipe médica, da minha família, ganhei força para entender aquela novidade e aguardar os dois meses até o parto. Vivi uma situação muito inusitada na qual o apoio recebido foi fundamental para que eu não tivesse nenhum dano, nem psicológico nem físico.”
Pouco depois, Cleonice deu à luz a uma menininha. Laura nasceu em 13 de abril de 2015, de cesárea, e chegou ao mundo totalmente saudável, “linda, maravilhosa, perfeita”, destaca a mãe. “Assumi a maternidade no susto, e tudo deu muito certo. Por experiência, digo que não existe um roteiro pronto para a vida.” Ela destaca ainda que, já no parto, a maternidade se revelou “o maior desafio de sua vida e que passou a experienciar, ali, um imenso sentimento de amor”.
Nova rotina
Acima de tudo, Cleonice, caçula em uma família de 10 irmãos e órfã de mãe antes de completar os 15 anos, avalia a surpresa da maternidade como uma “história de fé, da descoberta de muito amor, da importância da união e de ter tido o apoio incondicional de todos que a cercam”. Com a filha, diz que aprende a se reinventar todos os dias, “entre erros e acertos”, numa caminhada repleta de significado. “Acredito em milagre. A Laura veio como um grande desafio, uma história que serve como ferramenta para descobertas diárias, em que percebi frente à perspectiva da morte que mesmo aquele sofrimento inicial guardava um propósito, em que sai do conformismo para conhecer uma filha que veio ao mundo de forma tão linda. Com ela, soube que um filho traz novas responsabilidades, mas, principalmente, crescimento e transformação. Seja na intensidade das trocas do olhar de aconchego, seja na rotina de cuidados, a maternidade transforma a vida da gente.”
Aprendizado
Sobre a diferença de idade com a pequena, Cleonice se sente tranquila. Afirma que as pessoas celebram sua história “de êxito, esperança e ensinamentos”, e se ancora no que avalia como atributos de ser uma mãe madura: “estabilidade emocional e financeira, uma caminhada pronta”, diz.
Testemunha de “uma maravilha da vida”, Cleonice filosofa: “A gente programa e planeja a caminhada, mas na curva encontramos surpresas que mudam toda uma história. A Laura me deixa com visão de futuro ancorada em garra, audácia, empoderamento e muito amor. Quero criar uma filha que respeite as diferenças, prepará-la em estudos, integrá-la nos projetos sociais dos quais faço parte. Hoje, ninguém faz nada sozinho e acredito que ela veio ao mundo com essa força, guerreira e vitoriosa, para uma importante missão social, uma conexão com algo maior. Então, nesse terceiro ano em que comemoro o Dia das Mães, sigo em agradecimento imenso ao pai dela, à minha família, aos amigos e à equipe de médicos que estiveram comigo o tempo todo e que me permitiram viver essa sensação maravilhosa e inexplicável que é cuidar de alguém. Algo que até então imaginava ser impossível, um presente”.