A tendência da separação de sexos em transportes públicos
A segregação nas companhias aéreas tem uma longa história. Às vezes é um fato corriqueiro. Os comissários de bordo fecham a cortina para separar os passageiros sentados nas poltronas apertadas da classe econômica dos que compraram bilhetes de classe executiva ou de primeira classe com direito a cama. Em outras ocasiões foi um ato imoral. Enquanto a segregação racial nos aviões americanos sempre foi ilegal, em alguns aeroportos na primeira metade do século XX as companhias aéreas insistiam que os negros não podiam se misturar com os brancos nos terminais.
Essa conduta desprezível pertence ao passado, mas novas formas de segregação a estão substituindo. Desta vez, no entanto, destinam-se menos a marcar diferenças sociais e raciais, e sim a beneficiar os que são segregados. Ou assim se justificam.
Em 11 de janeiro, o CEO da Air India, Ashwani Lohani, disse ao jornal The Hindu que a companhia tinha planos de reservar seis poltronas nas primeiras filas dos aviões para passageiras que viajavam sozinhas. O texto do artigo era claro:
“A iniciativa da companhia é importante, uma vez que a decisão foi tomada logo após o incidente a bordo do voo Mumbai-Newark da Air India no final do mês passado, quando um passageiro fez um assédio sexual em uma mulher sentada ao seu lado. Durante o voo, um passageiro da classe executiva mudou de lugar para se sentar ao lado de uma passageira da classe econômica e a tocou enquanto dormia.”
A separação de sexos em meios de transporte tem sido uma tendência mundial. O Japão tem vagões reservados às mulheres em alguns dos trens há mais de dez anos. Essa medida foi uma reação às queixas frequentes de mulheres que tinham sido assediadas nos trens de Tóquio. Em 2004, a polícia registrou 2.201 casos de mulheres que haviam sido tocadas com fins libidinosos no metrô; uma pesquisa revelou que 64% das mulheres na faixa dos 20 e 30 anos tinham sofrido assédio sexual. Mas as queixas não se limitam aos aviões e trens. Por esse motivo, alguns hotéis que recebem hóspedes em viagens de negócios têm andares só para mulheres. Serviços de táxi destinados apenas a mulheres são comuns em muitas cidades do mundo.
Embora seja um fato lamentável, é compreensível. Nas pesquisas realizadas com mulheres que viajam a trabalho, a maior preocupação delas refere-se à segurança. É difícil encontrar estatísticas referentes à percepção de perigo nas estradas e a ameaça real. Mas se algumas mulheres sentem-se vulneráveis quando viajam sozinhas, é natural que tenham uma sensação de desconforto e queiram se proteger.