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Domingo, 24 de Novembro de 2024

Mulheres são humilhadas e têm cabeças raspadas por traficantes no Rio e na Bahia

09/12/2016

O interrogatório acontece na cozinha de uma casa na Ladeira dos Tabajaras, na zona sul do Rio de Janeiro. O chão está tomado por cabelos de três mulheres cortados à força. De cabeças raspadas, elas são questionadas a tapas e chineladas por traficantes do Comando Vermelho.

Em áreas dominadas pelo crime organizado, criminosos estabelecem as leis e as respectivas penas para quem as infringe. No caso de mulheres, namorar pessoas de comunidades rivais, passar informações sobre atividades dos traficantes à polícia, dever para a "boca de fumo" e até brigar em bailes são alguns dos "motivos" passíveis deste tipo de tortura.

UOL teve acesso a dois vídeos recentes em que mulheres têm cabeças e sobrancelhas raspadas contra a vontade delas e que revelam que essa prática é realizada em favelas no Rio e na Bahia.

O Disque-Denúncia fluminense registrou 27 denúncias de mulheres torturadas por traficantes desde o ano de 2013 até o presente momento. Conforme relatos anônimos que chegam ao serviço, as adolescentes são as maiores vítimas da ação dos criminosos, que impõem suas regras em diversas comunidades do Estado.

Esse é o caso de uma das três mulheres que foram interrogadas, no dia 5 de novembro, por traficantes da Ladeira dos Tabajaras, uma favela incrustada entre os bairros cariocas de Copacabana e Botafogo. Dominado pelo Comando Vermelho, o lugar possui uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) desde 2010.

Segundo o delegado Deoclécio Francisco de Assis Filho, policiais militares da UPP Tabajaras estavam atrás de criminosos da região quando fizeram uma batida em uma casa e encontraram as três mulheres e um grupo de traficantes. Eles teriam se escondido na casa e obrigado uma delas a dizer que era mulher de um deles. Todos foram levados pela PM para a delegacia e as três prestaram depoimento. Ao voltar para a favela, elas foram acusadas pelos traficantes de serem "X-9" (dedo-duro) e foram torturadas.

Assis Filho está à frente da DPCA (Delegacia da Criança e Adolescente) e diz que foi aberto um inquérito, mas ele continua parado na delegacia porque as mulheres nunca voltaram para prestar depoimento e reconhecer os agressores. "O caso não foi adiante. Dependia de elas voltarem à delegacia para prestar depoimento", disse o delegado.